Hoje eu vi um casal. Não sei se eles brigavam, terminavam, ou se alguém estava passando mal. Eles se olhavam, mas havia tensão. Ela tinha uma expressão sofrida, os olhos inquietos. Os dele estavam parados. Fixos nela. Tinha algo. Parei de comer e encarei, não pude evitar. Tinha algo. Era importante, eu sabia. Tinha algo. A qualquer momento alguém se levantaria, daria as costa, não olharia para trás. Seria ele? Achei que seria ela. Eu testemunharia, então, um momento que mudaria a vida de duas pessoas para sempre. Talvez um dia eles se reencontrassem, fizessem as pazes, tivessem netos. Eu? Eu nunca ficaria sabendo. Carregaria para sempre aquele olhar. Aquela tensão. O momento raro em que os dedos se abrem lentamente e, feito a brisa suave de um tímido pôr-do sol, a joia rara e bem protegida que é o amor se esvai feito areia fina.
Meu coração palpitava, esperando. A qualquer momento. Stalker sem intenção, mas sem coragem de desviar o olhar. De repente, ele se levantou. Seria ele, então? Mas parou na frente dela, que não hesitou em aceitar a mão oferecida. Ela fez uma careta, comentou algo, ele concordou, e eles se foram. Juntos, porém separados. Percebi, então, que não tinha algo. Não tinha algo. Não tinham algo.
Era o algo o que eles não tinham.
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