Prezado leitor;
Frustra-me interromper seu momento de paz numa leitura que deveria lhe proporcionar prazer. É terrivelmente irritante sentir essa necessidade de compartilhar meu sofrimento com alguém. E quem, amigo leitor, seria mais aconselhável do que você, que já me acompanhou por tantas situações agonizantes e desesperadoras que quase me custaram a vida? Quem melhor do que você, que já compreende parte do que sou, pois sempre esteve disposto a atender meus desabafos e calar meus tão desesperados gritos de socorro? Não, meu amigo, não posso lamentar por me encontrar novamente buscando aconchego em seus sempre tão atenciosos braços.
Sempre tão inteligente, prezado leitor, provavelmente já está imaginando o que me trás aqui nesta madrugada insuportavelmente quente e silenciosa. Independentemente das vírgulas e justificativas que são o que sempre se diferem, está concluindo nesse mesmo momento, se ainda não o fez ao começar esta entediante leitura, que a dor de mais uma desilusão dilacera novamente meu coração recentemente reconstituído.
Como dói, meu amigo…! Confiar… Entregar-se de corpo, alma e coração e ver seus sonhos estraçalhados como uma delicada taça de cristal. Uma simples e frágil taça! Fazer planos, construir firmamentos, traçar objetivos... E ver tudo se destruindo como se nada mais fosse do que um mero castelo de areia construído sob uma ventania...! O amor que você julgava tão forte, tão inabalável... despedaçado em pequenos fragmentos e naufragados para longe do seu alcance... Por mais que você nade, por mais que navegue... Encontra-se incapaz de juntar os pedaços e colá-los novamente naquele buraco que a perda deixou em seu peito.
Então, você chora. Chora como uma criança birrenta que perdeu a vinda do Papai Noel. Você bate o pé, se nega a comer, se nega a sair de casa, se nega a aceitar outra vida! “Por quê? A minha vida estava boa daquele jeito. Meu coração não suportará essa distância!” A dor é intensa. As lágrimas são incessantes. O coração se revolta, a alma emburra, e a razão te abandona.
Os dias se arrastam… Não há mais lágrimas, não há mais dor… Nosso lado racional está de volta… E aquela ferida cicatriza suas bordas, deixando por dentro um imenso vazio.
E esse vazio é sua companhia constante. Ele vem lembrar que existe quando você busca calor em outros braços. Ele vem lembrar que não, não te deixará em paz, porque seu coração não está em paz. Ele insiste em cutucar as margens recém cicatrizadas o suficiente para que não sangrem, mas inflamem e faça da dor um lembrete de que seus sonhos escoaram pelo esgoto junto com suas esperanças de alguém que te ame verdadeiramente, mova céus e terras para ver aquele sorriso brotar em seu rosto, apanhe uma rosa do jardineiro mal humorado quando você comenta o delicioso aroma de flores. Mande um torpedo em plena madrugada para dizer que sente saudades…
Telefone para dizer o quanto precisa ao menos ouvir sua voz… E esse vazio parece se tornar mais e mais profundo a cada vez que você acaba concluindo que, na verdade, esse amor nunca existiu. Ele foi sempre idealizado. O que existiu foram mentiras, traições, teatros, jogos de manipulação e poder. Mais uma vez, mesmo que por poucos segundos, seu mundo desmorona.
Já sentiu isso querido leitor? O caos que prevalece quando uma tempestade se vai? Aquela avalanche de sentimentos que vem, revira tudo, e se vai com a mesma rapidez, deixando para trás apenas um coração caótico, confuso, e desiludido? Não é um sentimento muito bonito, amigo, posso afirmar com convicção, se ainda me resta alguma nesse ego tão maltratado pela solidão.
E a dor… E o vazio… Como se eles não bastassem, nada do que deveria fazer sentido faz, tudo que deveria te fazer feliz não faz, há algo faltando… Há algo incompleto. Você percebe isso quando acorda de manhã e vai se deitar a noite sem ter recebido o telefonema de todos os dias perguntando como você estava. Você percebe isso quando completa um mês sem ouvir que alguém te ama. Você percebe isso quando vê um casal apaixonado e se lembra que… você tinha aquilo, mas você perdeu, e de repente, sem saber… sem ver… simplesmente… perdeu. E você até hoje não entende no que errou. Você só sabe que falhou. Falhou em fazer alguém feliz, falhou em fazer com que te amassem.
Agora você tenta reconstruir sua vida baseado em alicerces solitários que nunca lhe transmitiram segurança. Alicerces que você abandonou ainda frágeis quando tinha braços para te amparar. E você tem que reconstruir tudo, seus planos, seus sonhos, tudo o que aos pouquinhos tinha sido traçado tendo ao lado alguém que você tanto amou. Planos a dois, que você tem que transformar em planos unicamente seus. Solidão, por mais que você esteja rodeado de amigos, de pessoas, é a única que parece sua companheira mais fiel.
Meu amigo leitor, já ultrapassei novamente minha cota de minutos para incomodá-lo, então sinto-me obrigado a encerrar por aqui esse fluxo tão doloroso de lembranças que me aflige tão profundamente. Temo ainda não poder deixar aqui mais um dos meus usuais conselhos, aqueles que eu mesma nunca sigo. Amigo, como eu poderia dizer-lhe para não entregar seu coração quando lhe convencerem de que o tratarão bem? Como posso pedir para não se deixar iludir quando eu mesmo sei que o farei apesar de todas as minhas tentativas contrárias? Como posso, querido amigo, pedir que não mais abra seu coração, que não ame, que não se entregue, se, apesar de tudo, é isso que trás alegria ao nosso coração? Amar é incomparável, assim como sua dor o é. Não posso dizer que a dor valha a pena… Mas o que vale? Cabe a você decidir, meu amigo. Cabe a você viver. Cabe a você se entregar ou não. Meu único conselho... Tenha cautela, porque essa dor… Essa dor pode quebrar algo dentro de você que nunca mais será como antes…
As vezes, amigo leitor, é melhor seguir em frente sozinho e inteiro, do que aos poucos se perder em pedaços.
Sem mais.
Paula Renata Milani, 17 de fevereiro de 2010.
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