quarta-feira, 21 de abril de 2010

Carta de um jornalista amargurado IV

Prezado leitor;

Frustra-me interromper seu momento de paz numa leitura que deveria lhe proporcionar prazer. É terrivelmente irritante sentir essa necessidade de compartilhar meu sofrimento com alguém. E quem, amigo leitor, seria mais aconselhável do que você, que já me acompanhou por tantas situações agonizantes e desesperadoras que quase me custaram a vida? Quem melhor do que você, que já compreende parte do que sou, pois sempre esteve disposto a atender meus desabafos e calar meus tão desesperados gritos de socorro? Não, meu amigo, não posso lamentar por me encontrar novamente buscando aconchego em seus sempre tão atenciosos braços.

Sempre tão inteligente, prezado leitor, provavelmente já está imaginando o que me trás aqui nesta madrugada insuportavelmente quente e silenciosa. Independentemente das vírgulas e justificativas que são o que sempre se diferem, está concluindo nesse mesmo momento, se ainda não o fez ao começar esta entediante leitura, que a dor de mais uma desilusão dilacera novamente meu coração recentemente reconstituído.

Como dói, meu amigo…! Confiar… Entregar-se de corpo, alma e coração e ver seus sonhos estraçalhados como uma delicada taça de cristal. Uma simples e frágil taça! Fazer planos, construir firmamentos, traçar objetivos... E ver tudo se destruindo como se nada mais fosse do que um mero castelo de areia construído sob uma ventania...! O amor que você julgava tão forte, tão inabalável... despedaçado em pequenos fragmentos e naufragados para longe do seu alcance... Por mais que você nade, por mais que navegue... Encontra-se incapaz de juntar os pedaços e colá-los novamente naquele buraco que a perda deixou em seu peito.

Então, você chora. Chora como uma criança birrenta que perdeu a vinda do Papai Noel. Você bate o pé, se nega a comer, se nega a sair de casa, se nega a aceitar outra vida! “Por quê? A minha vida estava boa daquele jeito. Meu coração não suportará essa distância!” A dor é intensa. As lágrimas são incessantes. O coração se revolta, a alma emburra, e a razão te abandona.

Os dias se arrastam… Não há mais lágrimas, não há mais dor… Nosso lado racional está de volta… E aquela ferida cicatriza suas bordas, deixando por dentro um imenso vazio.

E esse vazio é sua companhia constante. Ele vem lembrar que existe quando você busca calor em outros braços. Ele vem lembrar que não, não te deixará em paz, porque seu coração não está em paz. Ele insiste em cutucar as margens recém cicatrizadas o suficiente para que não sangrem, mas inflamem e faça da dor um lembrete de que seus sonhos escoaram pelo esgoto junto com suas esperanças de alguém que te ame verdadeiramente, mova céus e terras para ver aquele sorriso brotar em seu rosto, apanhe uma rosa do jardineiro mal humorado quando você comenta o delicioso aroma de flores. Mande um torpedo em plena madrugada para dizer que sente saudades…
Telefone para dizer o quanto precisa ao menos ouvir sua voz… E esse vazio parece se tornar mais e mais profundo a cada vez que você acaba concluindo que, na verdade, esse amor nunca existiu. Ele foi sempre idealizado. O que existiu foram mentiras, traições, teatros, jogos de manipulação e poder. Mais uma vez, mesmo que por poucos segundos, seu mundo desmorona.

Já sentiu isso querido leitor? O caos que prevalece quando uma tempestade se vai? Aquela avalanche de sentimentos que vem, revira tudo, e se vai com a mesma rapidez, deixando para trás apenas um coração caótico, confuso, e desiludido? Não é um sentimento muito bonito, amigo, posso afirmar com convicção, se ainda me resta alguma nesse ego tão maltratado pela solidão.
E a dor… E o vazio… Como se eles não bastassem, nada do que deveria fazer sentido faz, tudo que deveria te fazer feliz não faz, há algo faltando… Há algo incompleto. Você percebe isso quando acorda de manhã e vai se deitar a noite sem ter recebido o telefonema de todos os dias perguntando como você estava. Você percebe isso quando completa um mês sem ouvir que alguém te ama. Você percebe isso quando vê um casal apaixonado e se lembra que… você tinha aquilo, mas você perdeu, e de repente, sem saber… sem ver… simplesmente… perdeu. E você até hoje não entende no que errou. Você só sabe que falhou. Falhou em fazer alguém feliz, falhou em fazer com que te amassem.

Agora você tenta reconstruir sua vida baseado em alicerces solitários que nunca lhe transmitiram segurança. Alicerces que você abandonou ainda frágeis quando tinha braços para te amparar. E você tem que reconstruir tudo, seus planos, seus sonhos, tudo o que aos pouquinhos tinha sido traçado tendo ao lado alguém que você tanto amou. Planos a dois, que você tem que transformar em planos unicamente seus. Solidão, por mais que você esteja rodeado de amigos, de pessoas, é a única que parece sua companheira mais fiel.

Meu amigo leitor, já ultrapassei novamente minha cota de minutos para incomodá-lo, então sinto-me obrigado a encerrar por aqui esse fluxo tão doloroso de lembranças que me aflige tão profundamente. Temo ainda não poder deixar aqui mais um dos meus usuais conselhos, aqueles que eu mesma nunca sigo. Amigo, como eu poderia dizer-lhe para não entregar seu coração quando lhe convencerem de que o tratarão bem? Como posso pedir para não se deixar iludir quando eu mesmo sei que o farei apesar de todas as minhas tentativas contrárias? Como posso, querido amigo, pedir que não mais abra seu coração, que não ame, que não se entregue, se, apesar de tudo, é isso que trás alegria ao nosso coração? Amar é incomparável, assim como sua dor o é. Não posso dizer que a dor valha a pena… Mas o que vale? Cabe a você decidir, meu amigo. Cabe a você viver. Cabe a você se entregar ou não. Meu único conselho... Tenha cautela, porque essa dor… Essa dor pode quebrar algo dentro de você que nunca mais será como antes…

As vezes, amigo leitor, é melhor seguir em frente sozinho e inteiro, do que aos poucos se perder em pedaços.

Sem mais.

Paula Renata Milani, 17 de fevereiro de 2010.

domingo, 18 de abril de 2010

Carta de um jornalista mal humorado. Definitivamente.

Eu realmente não gostaria de estar aqui. Há tanta coisa para fazer. Tanta coisa mais interessante. O livro Percy Jackson e os olímpianos, O ladrão de raios, por exemplo, estava realmente me proporcionando uma leitura atrativa. Mas o que a gente pode fazer quando esse lado humano e carente aflora? Pôr pra fora, é claro, independentemente de quantos minotauros estão sendo mortos. A coisa é abrir uma página do word para desabafar, computadores existem para isso, afinal...

É um sábado a noite, o relógio conta 23 horas e 6 minutos. Sim, cá estou eu no computador ao invés de fazer algo realmente produtivo. Dançar por exemplo. Faz bem para a saúde, principalmente a minha, acostumada a tanto sedentarismo... Eu poderia estar dando uns amassos com algum rostinho bonito e braços fortes também, em algum cantinho tranqüilo com pouca iluminação, mas não. Cá estou. Incapaz de divertir nos braços de outro alguém, a não ser o filho da puta que me deixou há um tempo atrás. Aqui estou eu incapaz de me concentrar nessa porcaria de texto, porque não consigo parar de pensar em “o quê” o desgraçado está fazendo agora, qual será a nova boca que ele está beijando? Será que já foi pra cama com ela? Teve o novo disparate de levar uma nova apresentação a uma família que eu considerei como minha por tanto tempo? Por que ele não liga? Por que não me procura? Não foi, aliás, o que ele fez há alguns dias atrás? Estava carente, sozinho, infeliz, precisava de um ombro para chorar, e o meu esteve ali à disposição, para que ele chorasse, desabafasse, e desaparecesse do mapa outra vez. Eu deveria saber, afinal... Disse que ele podia contar comigo quando estivesse triste, e ele levou a analogia com um lenço de papel a sério. Sim, porque o que você faz com um lenço de papel quando termina de usá-lo? Ele não tem mais serventia nenhuma. Qual é, é tão difícil de aceitar isso?

A presença dele está em cada detalhe de sua ausência. Essa metáfora parece tão coisa de quem não tem o que fazer (principalmente num sábado a noite), mas é realmente muito perspicaz. Você olha para o lado e encontra algum objeto que te remete ao desgraçado, vive uma situação que carrega uma incrível nostalgia a algo que vocês viveram juntos, enquanto ainda viviam seus felizes-para-sempre. Há o cheiro que ele exalava, o calor do toque dele em seu corpo que parece se aquecer apenas com a lembrança...

E você está sozinha.

Num sábado a noite.

Na porra de um computador.

Pensando no desgraçado.

No desgraçado que não te procurou, isso porque dizia precisar de companhia. Não sejamos idiotas, pelo amor de Deus, se ele não te procurou nem para isso, para uma simples companhia, é porque ele está com alguma muito melhor do que você. Ele está tendo mais do que isso, mais do que uma simples e confortável companhia, provavelmente noites ardentes de sexo com vadias que, você sabe, nunca vão amá-lo como você o ama.

Sejamos realmente, realmente espertos, ele vai voltar quando levar um novo pé na bunda, vai voltar para pegar o que de melhor você oferece, o seu amor, seu carinho, sua paciência (afinal, com ele, é só você quem tem). Vai sugá-la até o fim, até extorquir todo seu bom sentimento, todo o seu carinho. E sabe o que ele vai fazer depois? Não vai responder a seus telefonemas, vai te bloquear no MSN, não vai sequer te avisar quando a família o visitar porque ele nem está pensando em você, ele está pensando na outra que ele vai comer no dia seguinte. Ele está pensando em o quanto ela promete ser mais gostosa do que a anterior. E, francamente, não é preciso lembrar mais uma vez o que ele vai fazer depois disso, certo?
Porque a outra vai dar um pé na bunda dele de novo (combinemos, ninguém agüenta ele!). E ele não vai se importar! Porque sexo ele arruma de qualquer uma, a qualquer momento. Beijos ele encontra em qualquer lugar, de qualquer pessoa. Mas amor... amor não.

Amor ele só encontra com você. Do mais alto nível. Você o ama tanto que dói. E ele sabe disso. Ele precisa disso. Ele precisa de que você o ame, por isso ele volta. Não pode se dar ao luxo de perder a fonte de amor, a fonte de energia. Ele sabe que só você o amará a ponto de fazer tantos sacrifícios. Ele sabe que você o ama tanto que é incapaz de deixa-lo, incapaz de se aborrecer por muito tempo, incapaz de guardar esse amor para si mesma. Ele sabe disso. Ele não tem nenhum interesse em te retribuir, mas ele se viciou em altas doses do seu amor. Ele vem pegar a dose, as vezes semanal, as vezes mensal, que ele necessita, e então, ele se vai. Porque você não serve para mais nada além disso. Porque a sua felicidade a ele não importa. Porque não tem problema nenhum que você não esteja tomando sua dose. Não tem problema que você esteja morrendo de abstinência. Poderia dizer que ele não se importa, mas a verdade, verdade mesmo, é que ele não parou para prestar atenção tempo suficiente para perceber que você está morrendo, e para então, se importar. Ele nem se lembra de você.

Então que vá para inferno. E carregue o vício. Carregue o meu amor.

E, obviamente, me carregue junto. Porque eu não sei, realmente não sei, viver sem ele.

Merda.