Não é real. Essa expressão não
é real. Esse sorriso não é real. Essa pose, pernas cruzadas, olhar arrogante.
Este queixo lá em cima é só um disfarce. Um dia me disseram que olhar para o
alto segura as lágrimas. Puxa pra dentro, transforma em um resfolegar. Engole,
que vai passar.
Não é real.
Segura aqui, segura ali, fecha
uma porta e desmorona. Agora é real. Respira, que já passou. Joga uma água,
veja o olhar detonado te olhando esperançoso. Não dá, não. Tem hora ainda. Puxa
pra dentro. Endireita essas costas, menina. Controla essa marchinha
incontrolável aí dentro do seu peito. Abre a porta, que ainda nem é meio-dia.
Queixo para cima, um passo, outro passo. Olha o efeito. Confiança em cada
andar, lembra? Senta, cruza essas pernas. Postura corporal, fica de olho. Não é
real. Nada disso é real. Ninguém percebe? Olhe as pessoas nos olhos. Ninguém
percebe? Grite socorro. Ninguém percebe. Grite em silêncio.
Segure as palavras, antes de
falar. Pese-as. Pronuncie-as sem tremer. Pronuncie-as, sem temer. Ninguém percebe.
E a vontade de se esconder – esconda. Ninguém sabe. Ninguém precisa. Não é
real. Nada é. Ninguém é.
Máscaras, máscaras o
tempo todo.