terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Máscaras

Não é real. Essa expressão não é real. Esse sorriso não é real. Essa pose, pernas cruzadas, olhar arrogante. Este queixo lá em cima é só um disfarce. Um dia me disseram que olhar para o alto segura as lágrimas. Puxa pra dentro, transforma em um resfolegar. Engole, que vai passar.
Não é real.
Segura aqui, segura ali, fecha uma porta e desmorona. Agora é real. Respira, que já passou. Joga uma água, veja o olhar detonado te olhando esperançoso. Não dá, não. Tem hora ainda. Puxa pra dentro. Endireita essas costas, menina. Controla essa marchinha incontrolável aí dentro do seu peito. Abre a porta, que ainda nem é meio-dia. Queixo para cima, um passo, outro passo. Olha o efeito. Confiança em cada andar, lembra? Senta, cruza essas pernas. Postura corporal, fica de olho. Não é real. Nada disso é real. Ninguém percebe? Olhe as pessoas nos olhos. Ninguém percebe? Grite socorro. Ninguém percebe. Grite em silêncio.
Segure as palavras, antes de falar. Pese-as. Pronuncie-as sem tremer. Pronuncie-as, sem temer. Ninguém percebe. E a vontade de se esconder – esconda. Ninguém sabe. Ninguém precisa. Não é real. Nada é. Ninguém é.
Máscaras, máscaras o tempo todo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O amor...

O Amor, queridos. Dizem uns o problema, dizem outros a solução. E nessa o mundo vai sacolejando, pendulando, girando em círculos. As gerações vão aprendendo a desaprender, desapegar e se perder. Copiando os mesmos erros, papagaiando as mesmas bobagens. Ah, o Amor. Criatura incompreendida, confusa, com síndrome de Fernando Pessoa. Talvez a incompreensão resida no viés da interpretação. Ninguém é capaz de definir o que é, mas e se definirmos o que não é? Uma coisa é a prova de seu oposto: um oposto é a prova de sua coisa. Mas e se o amor for a própria oposição do Amor? Sua própria contradição? Hoje pedra, amanhã pena. Hoje pena e pedra, amanhã pedra e pena. Se o amor é fogo e brisa, a temperatura ambiente é isenta de amor? Estaria pensando eu, pobre tola!, naquele amor que não desiste, que não foge, não abandona? Mas se o amor exige a fuga, estarei eu desamando ao escolher ficar? E se o Amor se parte, e um amor se vai, o que fazer com o amor que fica? Talvez não. A contradição não ilumina as definições desse amor, mas ainda resta um. Resta o Amor dos olhos. A persiana solidária que deveria permanecer sempre fechada, desviando a atenção de nosso ponto central e cobrindo nosso olhar com bandagens de seda. Talvez, pobre tola!, eu acredite que esse Amor seja a chave. Pobre Amor! Deve ser tão difícil ser a chave quando o mundo tem preguiça de destrancar a porta...!