domingo, 26 de outubro de 2014

Sobre o julgamento, a intolerância, o egocentrismo e a “vida aberta”


Com o tumulto que essas eleições causaram, extremos a que chegamos que eu nunca tinha visto antes e as perseguições, por falta de uma palavra melhor, das quais fomos vítimas ou testemunhas, parei para refletir sobre a intolerância e o pré-julgamento, dos quais somos vítimas e testemunhas diariamente. Eis, então, que surge este texto.
Primeiro questionamento a ser considerado: por que me julgas?
Só na última semana fui recorde de julgamentos expressivos, por tudo que está dentro de seu limite de imaginação. Fui julgada por ter cometido erros. Fui julgada por me arrepender deles, mas muito mais pelos que eu não me arrependi. Fui julgada por ter dito uma palavra na hora errada, por não cumprir com as expectativas de alguém, por querer me divertir. Fui julgada por ter escolhido um paquera novo, por não chorar por um paquera velho, por ter ficado com raiva de alguém e por ter me afastado depois. Fui julgada por não ter dado meu apoio a um partido. Fui julgada por não querer conflitos e discutir sobre isso. Fui julgada pelos meus amigos vermelhos e pelos meus amigos azuis. Fui julgada pelo meu peso, como sempre, fui julgada pelas minhas manias e reclamações e personalidade. Fui julgada pelos meus receios e inseguranças. Acho que eu fui julgada, especialmente, por não acreditar que o mundo todo sabe bem mais do que eu sei sobre a maneira ideal que eu devo ser, vestir, pensar e agir.  
Segundo questionamento: por que me tomas?
Num mundo novo onde a moda é “sejamos todos críticos”, ninguém mais é tão ingênuo a ponto de pensar que está livre de ser julgado. Seremos todos. O tempo todo. O problema é que alguém, em algum momento desse mundo moderno, decidiu que nada disso tem que ficar na própria cabeça. Falemos, falemos, falemos. E, desculpe o palavreado, mas foda-se a educação, a gentileza, a tolerância. É diferente, então é errado, e foda-se quem não enxergar isso também. Experiência de vida, bagagem, motivos, nada disso é importante. E por quê?
Porque nós já estamos no terceiro questionamento: sou muito importante. Muito. Mas mais que isso. Sou tipo a encarnação do modelo perfeito de Darwin. Meu cérebro é a evolução racional num corpo gostoso e olhos sedutores. Desculpe, não estou vendo você daqui de cima. Mas você escuta minhas palavras daí de baixo, certo? Portanto escute, e escute com muita atenção: sou uma pessoa estudada e crítica (tenho um diploma de mestrado e fiz algumas pesquisas ali no Wikipédia), portanto, seja o que eu estou dizendo que você tem que ser. Se você não me escutar só vai provar que é o que eu já desconfiava: um cérebro ultrapassado que não merece nada além da minha hostilidade. Não importa que metade do mundo não concorde comigo. Não importa que é lei, que é fato, que é consistente ou inconsistente. Importa que sou eu quem estou dizendo e eu sou foda. Repita comigo: amém.
Por último: follow me!
Por que essa perseguição tem ficado pior? Não me lembro das últimas eleições afastarem tanto as pessoas assim antes. Não me lembro de ter havido tanto conflito. Não me lembro de ter chamado tanta gente para tomar um Starbucks, reclamar da minha vida e pedir um conselho. Mas, é claro, minha vida agora é um livro aberto. Temos facebook, twitter, what’s app e muitas outras coisas para que todos saibam onde eu estou, onde eu vou, com quem, e até como. Você abre a deixa para verem se gostam ou não, para 500 pessoas comentarem o que acham daquilo e ainda dá a chance para que elas espalhem isso para os amigos delas também. E veja o progresso! O que tínhamos disso há quatro anos atrás? O que era o Facebook há quatro anos atrás? Será a rede social um desinibidor pior que o álcool? Porque qual caminho mais fácil tenho eu para botar toda a titica de galinha que eu tenho na minha cabeça sem ser obrigado a enfrentar os olhos de alguém, um ser humano como eu, com uma história que eu desconheço?
É muito mais fácil julgar alguém quando me coloco no limite virtual da distância, quando esqueço que ela sangra, que ela é humana e, portanto, comete erros, e que, por mais errada que seja a atitude dela, ela acha que está fazendo a coisa certa, sim. E eu não quero citar Voltaire nem Lincoln, mas vale a reflexão: o que é mais importante? Uma convivência amistosa em que deixemos a fantasia de separar o mundo entre vilões e mocinhos e aceitemos diferenças e erros, seja qual for a origem deles, ou viver num ambiente conflituoso e de energia negativa, porque é mais importante expor todas as maçãs podres que estão na sua cabeça? Dói guardá-las para si? Dói tanto assim deixar de estar certo, deixar de ser a vítima?

Ei, buddy! Vamos deixar isso pra lá e tomar uma cerveja?

domingo, 5 de outubro de 2014

Ele sabe que sou gorda?

Ele sabe que eu sou gorda?

Falando sobre isso com algumas amigas antes, tive reações do tipo: para de ser boba, não fala assim não!

 Refletindo, cheguei à conclusão de que são elas que estão sendo bobas. Por que todo esse mimimi na hora de reconhecer meu peso? Desde quando dizer “eu sou gorda” é não me dar valor? Eu não estou usando qualquer adjetivo pejorativo para me definir. Estou reconhecendo uma característica. Para mim, é o mesmo que dizer: ele sabe que eu sou loira? Morena? De cabelo colorido? Que uso óculos? Que sou branca, parda, negra, ruiva, me falta um dente, tenho uma cicatriz no rosto?

Não é mania de expor os ditos “defeitos”, como já fui obrigada a ouvir. É mania de mulher decidida que não quer perder tempo com preconceito, tendo que abrir mentes fechadas, esperando um pouco de aceitação de um cara patético que não fez o dever de casa e está com expectativas estereotipadas. Luto com isso todos os dias. Se eu topei sair, flertar, beber alguma coisa e dar uns pegas em alguém, quero passar o meu batom vermelho e fazer exatamente isso.


É por esse motivo que, quando marco um encontro, faço questão que o cara saiba com quem vai se encontrar.  Ele olhou todas as minhas fotos? Não só as do perfil, cheias de filtro e do pescoço para cima, mas especialmente aquelas em que fui marcada, bêbada, maquiagem borrada e cabelo bagunçado? Espero que sim. Foi uma amiga quem passou meu telefone? Que ela diga a ele. Porque um homem de verdade pode até achar que eu não faço muito seu tipo, mas vai querer me conhecer por trás dos dígitos da balança. O outro tipo de homem não, e assim a gente não perde tempo, não desgasta a lingerie nova, evita a surpresa da hora H e uma situação desconfortável, sem tesão nenhum de ambas as partes. Ele, porque esperava uma cinturinha 38 e coxas finas. Eu, porque esperava o tal do homem de verdade.