Começar a escrever um texto nunca se mostrou um desafio tão difícil. Exatamente porque você não sabe o que colocar nele. Simplesmente porque você faz ideia de como desabafar o que vai nas entranhas mais emaranhadas e difusas do seu ser.
Chega um ponto em que aquele amontoado de sensações que você fez tanta questão de manter para si precisa urgentemente se esqueirar pela brecha mais superficial que você sem querer ignorou.
E o que dizer? O que fazer? Permitir que as lágrimas caiam depois de tanto esforço para segurá-las e por tanto tempo?
Don't cry tonight...
Gritar com seus amigos dizendo "não, droga, eu não estou bem, e não, droga, droga, eu não tenho razões para não estar bem, tampouco posso dizer que não tenho razões para estar. Não estou bem, nem não-bem. Estou indiferente, e talvez seja isso.
Talvez eu tenha caído, perdido meu chão, travado uma árdua batalha contra um exército prepotente de um estúpido coração. Talvez eu tenha perdido, saído ferida, traumatizada. Então talvez eu tenha me curado. Talvez eu tenha me apoiado no que sobrou de minha fortaleza e me reerguido. E me superado. E sorrido, e brincado, e sonhado, e mentido e me convencido de que - diabos! Eu estou bem! Eu não estou sofrendo. E não estou sentindo falta, e não estou sentindo arrependimento, e não estou magoada ou ferida ou despedaçada ou presa a um passado que se perdeu entre os destroços frios de uma guerra que eu mesma travei.
Eu estou indiferente.
Estou enclausurada dentro da fortaleza que eu mesma ergui ao redor de um coração que ameaçava desmoronar e implorava por um reparo.
Então, de novo, o problema talvez esteja justamente aí.
De tanto fingir não sentir, eu acabei não sentindo. E isso pode ser uma coisa boa porque não sentir significa sem lágrimas, sem remorsos, sem dores. Sem sofrimento, sem cobranças. Sem feridas reabertas. Sem cicatrizes cutucadas.
Sem sentir.
Indiferença.
Você superou, sorriu, brincou, sonhou, e mentiu - ah! mentiu bem! Mentiu tanto que convenceu a si própria.
E também não precisa sentir quando está tão entusiasmada com algo e ninguém compartilha do seu entusiasmo. As pessoas têm a vida delas, então simplesmente não conte com elas. Guarde para si. Se compartilhar, compartilhe com indiferença - finja que não é importante. Não se abra, não abaixe suas defesas; proteja-se!
Não seja vulnerável.
Seja um enigma.
Finja que não é importante. Pra que dizer que é? Para ouvir os mesmos conselhos? As mesmas palavras vãs? Confortos decorados ou congratulações ensaiadas.
As mesmas desculpas esfarrapadas.
A indiferença disfarçada com um olhar de piedade que vai sumir assim que der as costas, porque as pessoas são assim. Egoístas. Preocupadas com si próprias, e ninguém percebe as contrações no seu sorriso quando você dá de ombros ou a falha no seu tom de voz quando você diz "não me importo" porque elas estão tão ocupadas com o alívio de não precisar usar aquela lista de palavras de conforto em que nenhum de vocês acreditam realmente.
As pessoas são tão vis!
E você está tão, tão sozinho...
... enquanto dá de ombros.
Srta. Mily.
11/03/2011 22:25
Nenhum comentário:
Postar um comentário