quarta-feira, 12 de maio de 2010

Amar não é só dizer eu te amo.

Amar não é só dizer eu te amo.

Deparei-me com essa frase ao fazer uma “varredura” pelas minhas comunidades do orkut, desde então, não consigo deixar de pensar nela. É como um espinho entalado na garganta, daqueles que você não consegue se livrar, que te segue para todos os lados. Por isso resolvi falar um pouco sobre ela e aliviar um pouco do incômodo que ela me faz sentir. Preste atenção, veremos se você compartilha da mesma opinião quando chegarmos ao último ponto final.

Se olharmos mais atentamente para ela, encontramos uma das características importantes para se falar de amor. Veja bem, não está escrito “O amor é…”, mas sim o que ele “não é”. Afinal, é tão complicado falar de amor, que fica difícil dizer tudo aquilo que ele é. Algumas pessoas tentaram, muitos sábios, muitos cientistas, muitos poetas… Algum deles conseguiu? Não. Por não existir uma definição única e correta. Da mesma forma que é frustrante ler essa frase, porque por meio dela, apenas uma única coisa nós podemos ter certeza: o amor não se resume a dizer “eu te amo”. Então que diabos ele seria?

Costumo dizer que o amor me causa todas aquelas reações que não consigo explicar. Sempre tento, como todo o ser humano, viciado em nomear tudo o que existe a fim de que nada possa passar despercebido em seu cérebro egocêntrico. Mas dizer “aquele friozinho na barriga”, “o coração acelerado”, “aquele calor gostoso nas entranhas quando seus olhos se encontram”, “a certeza de que você morreria por aquela pessoa se possível”, “a certeza de que é a pessoa mais feliz do mundo apenas por abraçar a criatura amada”; tudo isso é muito bonito, mas muito pouco. Não transmite o significado de amar. Não transmite a grandeza desse sentimento. Quem não ama, não chega nem perto de compreender. Não a vê a razão desse tal de amor. Não faz sentido.

Então por que as pessoas insistem em continuar a usar essas definições? Se na verdade, elas não definem nada? Por que há ainda quem insista em tentar explicar a sensação de amar para quem nunca amou? Não tem como pôr em palavras essa sensação; no entanto, elas fazem perfeito sentido para aqueles que amaram, porque elas se assemelham a seus sentimentos. Não são iguais. Porém, fazem sentido. Revivem lembranças de sentimentos parecidos e com elas, vêm também a sensação única e inexplicável do que é amar.
Se para uma pessoa que nunca amou é impossível explicar o que é amar, como ela saberá, então, que ama quando esse dia chegar? Ora... Ela simplesmente perceberá que tudo o que ela havia lido sobre o amor, sobre amar, era simples e absolutamente… pouco, perto daquilo que ela sente, que é… Bem, indefinível.

Isso pode significar também que haverá sempre os equívocos, as confusões, as ilusões muitas vezes causadas por impressões erradas. E de onde vêm essas impressões? Quem são os culpados por elas? Somos nós, é claro, que tentamos definir. A culpa pertence as definições, ou seja, pertence a quem as fazem. Ou seja ainda: a nós. A mim. Àqueles que definem o amor como a obra mais maravilhosa e gratificamente que existe. Os que nunca amaram assistem essas definições com o coração palpitante, e já saem a procura de sua tão sonhada alma gêmea. Quando encontram suas vítimas – aquelas que despertam o suor nas mãos, a aceleração de seus batimentos cardíacos, aquele torpor temporário e a neblina que vai tomando conta de seu cérebro – eles já vão logo jurando amor eterno. Usando a palavra amor em vão. Banalizando.

Todavia, ninguém se dispôs a avisá-los que qualquer paixão desperta essas mesmas sensações. Ninguém se dispôs a chamá-los para sentar e ouvir enquanto você conta sobre aquele outro lado do amor. Aquele que faz você se irritar por causa de um telefonema não dado. Que faz com que você tenha um péssimo e estressante dia por causa da briga do anterior, afinal, como diabos você poderia ter percebido que a garçonete estava sorrindo mais do que deveria ao atendê-lo? E, que merda, aquele coração de pelúcia era o seu favorito, não faz sentido ele brigar com você só porque foi seu ex-namorado quem deu, muito menos significa que você tenha que parar de abraçá-lo para dormir. Ninguém avisou daquele sofrimento insuportável que vai tomar conta de você se não der certo. Ninguém avisou do vazio que vai passar a existir no seu peito quando seu amor te magoar além da conta. Ninguém avisou que para que você diga que ama uma pessoa, você primeiro precisa ter passado pelo teste. Você precisa ter tido o seu amor posto à prova. Você precisa ter aprendido a perdoar. Mesmo chorando, mesmo com o coração doendo, mesmo com seu orgulho ferido, você precisa acreditar que o seu amor é forte o bastante para superar. Que o seu amor é verdadeiramente amor.

Se o amor e a paixão são tão parecidos, como não confundi-los? A princípio, é praticamente impossível. Contudo, a diferença tão sobressalente entre os dois é única: um irá superar, o outro não passará do primeiro obstáculo. É necessário esperar que estes cheguem para que você possa dizer aos quatro ventos que ama? Na teoria, seria o certo. Obviamente, porém, essa é uma atitude drástica. O que é realmente importante é ter cautela. Você tem o direito de assumir os riscos de se machucar confundindo um sentimento, mas você não tem, em hipótese alguma, o direito de machucar a pessoa que acreditou nele, e que por conta disso, modificou sua vida, seus atos, seus defeitos. Que investiu no que pareceu sua maior chance de vivenciar o seu conto-de-fadas com alguém que parecia tão verdadeiramente apaixonado. Que amava intensamente, incomparavelmente.

Egoístas. É o que são aqueles que fazem de tudo para despertar o amor, iludir, sem antes analisar seus sentimentos e fazer juras e promessas de algo que não sabem se serão capazes de cumprir. Dor, é o que causarão a inocentes que optam por confiar. E o amor… O amor sai de seu altar naquela dimensão intocável e despenca para os lábios bem intencionados, porém não aptos para honrá-lo. Ele perde a sua reverência. A sua imensidão. Por isso a sociedade hoje não o valoriza mais. Tornou-se mais uma coisa banal e inútil no nosso universo egoísta e capitalista.

“Amar não é só dizer eu te amo”. O que você vê ao ler essa frase agora?